quarta-feira, 25 de março de 2009

SÍMBOLOS PAGÃOS NA RELIGIOSIDADE E EM FESTAS POPULARES NO BRASIL


Nas festas típicas brasileiras, em seu folclore, podemos encontrar uma variedade significativa de símbolos pagãos que sobreviveram ao poder político de Cristianismo católico na Europa, através dos séculos, e chegaram até o chamado “Novo Mundo” com seus colonizadores portugueses, bem como nos anos subseqüentes, através dos imigrantes que aqui se estabeleceram.

O resultado é uma mescla de tradições e culturas, muitas das quais foram sendo gradativamente incorporadas e, apesar de seu significado original ter sido perdido através dos séculos, desde a incorporação e adaptação dos ritos pagãos ao cristianismo católico, muitas destas tradições ainda são praticadas, embora adaptadas e com nova (relativamente) roupagem.

Uma das festas folclóricas mais praticadas no Brasil são as FESTAS JUNINAS. No calendário cristão católico, são ditas em homenagem aos santos da Igreja Católica Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho), e nelas é praticada a dança popularmente chamada “quadrilha”. Particularmente Santo Antônio é que reúne o maior número de correspondências pagãs relativas a Beltane, onde no Paganismo se celebra o Sagrado Casamento, a União da Deusa e do Deus. No catolicismo romano, é a Santo Antônio que são atribuídas as propriedades de “santo casamenteiro”, e é por ocasião de sua data que são realizadas inúmeros ritos de magia popular, as chamadas “simpatias” objetivando o grande amor da vida, o casamento, quer seja desejado de imediato, ou em um futuro não tão distante. Mas ao longo dessas três datas podemos notar o predomínio de simbolismos pagãos nos elementos de suas festas.

A “quadrilha”, tipo de dança que chegou ao Brasil através dos portugueses, reúne em si as características das danças executadas nos ritos de fertilidade, mas infelizmente, como ela foi incorporada pelo cristianismo católico, seu real significado se perdeu completamente, passando a ser somente “folclore”. No entanto, características como a dança de roda e espiral, as fogueiras, o mastro-de-fitas, e mesmo o “pau-de-sebo” são vestígios dos festivais pagãos de Beltane, e que persistem até os dias de hoje, e são fortemente arraigados na cultura popular brasileira.

A Quadrilha:

A dança de Quadrilha, é uma dança de pares, que é guiada por um “quadrilheiro”, uma espécie de instrutor que diz os passos que serão dados durante a apresentação, e durante a dança são feitas evoluções como:

- Troca de pares: os pares se trocam entre si em determinado momento da dança, misturando-se uns aos outros, quando o quadrilheiro fala “tocando de par!”, e vão dançando em um ritmo que lembra uma mistura de valsa com polka, até que o quadrilheiro fala novamente “pegando seu par”;
- Dança de fila: dançam evoluindo de diferentes formas, mas sempre em fila, um cavalheiro com as mãos nos ombros de uma dama, intercalando-se homens e mulheres em fila, até a próxima ordem do quadrilheiro, passando a outro passo;
- Cortejo das damas: cada “dama” senta numa cadeira que é colocada no centro do local onde está ocorrendo a dança, e ela é cortejada sucessivamente por vários “cavalheiros” (dos outros pares), e ela recusa a todos. Somente aceita aquele que a corteja quando é seu par na dança, voltando a dançar. Após todas as damas serem cortejadas por diferentes cavalheiros e aceitar o cortejo de seu par, o quadrilheiro dá a ordem para o próximo passo;
- Dança com o mastro-de-fitas: nesse ponto da dança, que ocorrem próximo ao final da apresentação, um mastro é colocado no centro da área de dança, onde estão presas à sua extremidade superior várias fitas. Cada membro da quadrilha pega na ponta de uma fita e vai dançando, passando por dentro e por fora da roda, e assim trançando as fitas. Há alguns grupos de quadrilha que encerram esta etapa da dança quando termina-se de trançar o mastro, e outros continuam evoluindo na dança para destrançar o mastro. O mastro de fitas, como é dançado em volta, como as fitas são trançadas, ocorre da mesma forma que a dança que se faz em torno do Maypole nos rituais de Beltane;
- “Coroa-de-Flores”: é um passo em que, cada par, fica o cavalheiro de frente para a dama, de mãos dadas para cima, formando um arco. Por debaixo deste arco vão passando sucessivamente os outros pares, um a um, e o par que chega na frente assume a posição com mãos dadas e braços em arco, e assim vão os casais passando por baixo dos braços em arco de outros pares, sucessivamente, até que o casal principal chega novamente à posição à frente de todos;
- O “Casamento Caipira”: toda festa junina que se preze tem, na dança de quadrilha, o casamento caipira. Para nós pagãos, é nítida a depreciação com relação ao Sagrado Casamento. Os noivos do casamento caipira formam o primeiro par do grupo de dança de quadrilha, e são eles que conduzem a dança, sob as ordens do quadrilheiro. No começo ou no final da seqüência da dança, é “celebrado” um casamento com os seguintes personagens: um padre, a noiva, o noivo, o pai da noiva, o delegado (policial) e convidados. Todos os personagens presentes no casamento são membros do grupo de dança de quadrilha. É realizada a alegoria do casamento caipira, em que o noiva comumente já se encontra grávida, e o noivo não quer casar. E ele casa à força, sob os olhos do policial e intimidado pelo pai da noiva, e o padre nada faz, só professa a cerimônia. No meu modo de ver, apesar de todo humor característico de toda a apresentação, o casamento caipira numa festa junina me faz sentir um pouco triste, pois toda a beleza e propósito de um festival de Beltane é banalizada, a ponto do Sagrado Casamento ter sido colocado como uma coisa cômica e depreciativa. Mas, como a maioria da sociedade não é pagã, e não conhece as origens do casamento caipira, bem como não conhece o fundamento do mastro-de-fitas (Maypole).

As comidas típicas das festas juninas são quentes, típicas de clima frio, e incluem ingredientes como gengibre, amendoim, milho, coco. Algumas comidas típicas dessa época são:

- Bolo de milho;
- Amendoim torrado (salgado);
- Pé-de-moleque (um doce originalmente feito com amendoins inteiros caramelados com mel ou calda de açúcar, em ponto de corte);
- Paçoca (doce feito com amendoim moído e adicionado açúcar e sal);
- Pamonha (doce ou salgada, feita com milho triturado/ralado com leite e cozida, embalada na própria palha do milho);
- Curau (doce feito da mesma forma que para pamonha, sendo coado e cozido diretamente na panela, como um creme doce ou salgado de milho);
- Quentão (bebida feita à base de um forte chá de gengibre e adicionado cachaça e açúcar).

Essas são algumas características dos festejos juninos (típicos do Brasil), que incorporaram diversas festas pagãs da Antiguidade, incorporação esta feita pelo catolicismo de forma a vencer a resistência dos habitantes das zonas rurais européias, que dificilmente convertiam-se à nova religião (cristianismo católico), e que para tanto esta foi aos poucos incorporando elementos pagãos aos festejos religiosos.